quem fala
fernanda weber, 1996, brasília. escrevendo para criar um lugar no mundo em que as coisas aconteçam num outro ritmo. ♥

a biblioteca da meia noite - matt haig



Começo a escrever sobre esse livro numa mistura de sensações. Eu o li em dois dias, durante esse feriadão do dia 12 e apesar de ter devorado uma leitura, do jeito que eu gosto, terminei com um sentimento esquisito. Depois de muito pensar, acho que consegui entender meu estranhamento e escrever aqui é uma forma de organizar essas ideias.

A Biblioteca da Meia-Noite conta a história da Nora Seed, uma mulher de 35 anos que está num momento péssimo da vida e decide que não quer mais viver. A partir daí, ela conhece a Biblioteca que dá nome ao livro, um lugar que fica entre a vida e a morte, e encontra a Sr. Elm, uma bibliotecária que marcou sua infância.

Nesse lugar, ou não-lugar, é apresentada a ela uma infinidade de livros que contam a história de todas as vidas que Nora poderia ter vivido, caso tivesse feito escolhas diferentes. A grande questão é que ao abrir cada um desses livros, uma possibilidade se abre também: viver aquela vida a partir daquele momento e experienciar o que teria acontecido se ela tivesse seguido outro rumo.

Deixo registrado aqui que foi essa sinopse que me motivou a comprar o livro. Eu não sabia nada sobre o autor, nada sobre o que as pessoas falam sobre ele no tiktok e nada sobre as polêmicas recentes que o envolvem. O que me cativou foi exclusivamente a premissa do livro. E ele me entregou o que eu esperava.

Eu sou uma fã de histórias sobre viagem no tempo, sobre enxergar o que poderia ter acontecido se as escolhas fossem outras e penso muito sobre como a nossa vida pode ser definida por movimentos grandiosos ou pequenininhos, da mesma forma. Sendo assim, o livro me relembrou reflexões que eu adoro ter e me fez pensar na chance de haver uma biblioteca repleta de vidas que eu sonhei ou que nem mesmo imaginei. O que eu faria diante de tantas versões? Quem eu poderia ser se fizesse caminhos diferentes? Esse é um assunto que me fascina, de verdade.

Num contraponto, a forma como o livro foi escrito me desanimou. Eu acredito que saúde mental é um assunto muito sério e, em alguns momentos, senti que o tema foi tratado com certa superficialidade. Pode ser que gere gatilhos em algumas pessoas, assim como pode ser um aconchego pra outras. Me gerou um incômodo. Pesquisando depois sobre autor e obra, eu soube que o Matt Haig é um escritor de livros de autoajuda e essa é uma ficção com um ar de autoajuda, com uns toques de meritocracia, o que justifica meu desconforto.

Em outra época, esses incômodos me fariam não gostar do livro e eu aproveitaria pouco das reflexões que ele me trouxe. Mas tenho separado alguns aspectos pra tentar tirar proveito do que li, e apesar das ressalvas, da forma não me agradar tanto, o enredo me fez permanecer nas vidas de Nora Seed por tempo suficiente pra pensar até nos hábitos que quero cultivar e que podem mudar o curso do meu caminho. Pra complementar, encontrei esse vídeo da Tatiany Leite, que me fez pensar ainda mais sobre o que esse livro propõe.


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