Em 2019, me debrucei sobre o Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, para escrever meu TCC e durante meses me percebi submersa no caos da cidade fictícia por ele criada. Agora, pouco mais de 3 meses depois de entregar o trabalho, me percebo submersa, novamente, à atmosfera retratada na obra que estudei. E aqui não falo sobre a possibilidade de estarmos vivendo uma realidade exatamente igual ao que Saramago escreveu, não é o caso, mas em como esse livro nos traz reflexões extremamente cabíveis ao momento.
Para quem não conhece a história, um resuminho rápido: Em uma cidade não-nomeada, gradativamente toda a população fica cega, com a exceção de uma mulher. Por acreditarem que se trata de uma doença contagiosa, o governo isola os primeiros cegos num manicômio abandonado. A quarentena, a preocupação com o que está acontecendo e não podemos ver, nem controlar, o desejo de que tudo isso passe o quanto antes, o medo do que pode acontecer, a saudade das pessoas que amamos, a indignação com a desigualdade e tantas outras coisas nos conectam aos cegos do Ensaio sobre a Cegueira.
A mulher do médico, por muitas vezes, deseja não ver para não precisar lidar com todo caos ao seu redor, assim como dorme e acorda pensando em como seria bom se todo o tormento passasse logo. Além disso, ainda reflete sobre a importância de enxergar em meio aos cegos. E essas são sensações que conhecemos bem. Durante o isolamento vem a ansiedade, o desespero... As fakes news rondando as redes sociais, a desigualdade social sendo evidenciada a cada minuto, os limites nas relações humanas sendo colocadas à prova na disputa por álcool em gel. E assim o caos vai se instalando.
Para quem não conhece a história, um resuminho rápido: Em uma cidade não-nomeada, gradativamente toda a população fica cega, com a exceção de uma mulher. Por acreditarem que se trata de uma doença contagiosa, o governo isola os primeiros cegos num manicômio abandonado. A quarentena, a preocupação com o que está acontecendo e não podemos ver, nem controlar, o desejo de que tudo isso passe o quanto antes, o medo do que pode acontecer, a saudade das pessoas que amamos, a indignação com a desigualdade e tantas outras coisas nos conectam aos cegos do Ensaio sobre a Cegueira.
A mulher do médico, por muitas vezes, deseja não ver para não precisar lidar com todo caos ao seu redor, assim como dorme e acorda pensando em como seria bom se todo o tormento passasse logo. Além disso, ainda reflete sobre a importância de enxergar em meio aos cegos. E essas são sensações que conhecemos bem. Durante o isolamento vem a ansiedade, o desespero... As fakes news rondando as redes sociais, a desigualdade social sendo evidenciada a cada minuto, os limites nas relações humanas sendo colocadas à prova na disputa por álcool em gel. E assim o caos vai se instalando.
Para quem já leu o livro, chega a ser assustador o número de semelhanças com a situação atual. Mas não foi vidência ou simples imaginação para escrever ficção. Nossa realidade está muito bem retratada ali, nos problemas políticos, nas nuances da humanidade, na desordem, na solidariedade... Nos sentimos de mãos atadas, num misto de esperança e desespero. Na certeza de que tudo isso passa, mas na dúvida de quando e como será até passar, no que vai mudar até lá.
De repente, fomos parados por algo invisível, que nos coloca no lugar de reflexão acerca do sistema, do governo, das escolhas que fazemos individual e coletivamente. O nosso poder foi posto à prova diante do desconhecido e fomos obrigados a lidar com as coisas no estado em que as deixamos. Precisamos administrar essa porção de sentimentos e de demandas reais que não param de chegar, além de continuar produzindo, se mantendo positivo, consolando quem está ao nosso redor e lavando as mãos. É coisa demais acontecendo ao mesmo tempo e esse caos psicológico é o que nos aproxima tanto da mulher do médico. Em meio a enxurrada de notícias, todos nós já nos recolhemos desejando não ver tudo que está acontecendo ao redor.
Apesar das tentativas e boas intenções que já tem distribuído dicas do que fazer durante a pandemia, não existe uma receita pronta pra não surtar. E ainda se existisse, sabemos que ela não seria acessível para todos. Esse texto não traz respostas. Na verdade, são só reflexões em forma de desabafo de mais uma pessoa em casa. E um lembrete para nos cuidarmos. Que possamos fazer o possível para nos manter saudáveis. Emocional, física e psicologicamente. Cada um dentro das suas possibilidades, nessa esperança (em comum) de que o cenário mundial mude e narrativas como a de Saramago estejam muito mais nas obras de ficção do que fora delas.
Obs: Leiam o Ensaio sobre a Cegueira. Não necessariamente agora. Pode ser uma leitura densa demais pro período que estamos vivendo. Mas leiam. Em meio a metáforas muito bem elaboradas, a retratos fieis da nossa sociedade e a parágrafos difíceis de serem digeridos, Saramago escreve pra nos fazer pensar.
Se cuidem!
Cheiro
♥

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